cena fulgor
Fotografia pinhole, dimensões variáveis, 2022.
Como deslizar de um espaço-tempo da narrativa para um espaço fulgorizado? É o que se pergunta Maria Gabriela Llansol, ao que ela mesma responde que seria apenas a partir da tentativa de criar epifanias, ou cenas fulgor. Deslizamos do lugar do tempo cronológico e histórico, para um não-lugar, um espaço suspenso, irradiado que dissolve a unidade e linearidade, para criar um caráter fragmentário do texto e, aqui, neste trabalho, da fotografia. As cenas fulgor que se apresentam agora possuem um caráter afetivo, são provavelmente as primeiras paisagens que vi na vida, fizeram parte de toda a minha infância e vida adulta.
Agora sobrepostas pelo movimento da câmera, céu e lagoa criam um estado de indiferença, por onde o vento sul passa no assovio, em velocidade lenta e fugaz, paradoxalmente. Se é verdade que ao construir uma imagem depositamos nela todo um repertório imagético contido, por sua vez, em nosso imaginário, então é verdade também que essas paisagens desfocadas, feitas por um buraco de agulha, são espaços suspensos, uma presença que se faz imagem, e onde ela mesma se anula.